Embora sejam um fenômeno recorrente ao longo da história, as guerras comerciais têm efeitos muitas vezes negativos sobre as economias de diversos países.
De maneira resumida, podemos afirmar que uma guerra comercial acontece quando uma nação impõe tarifas às importações advindas de determinados países. Esses países, por sua vez, retaliam de forma semelhante, com medidas de protecionismo comercial. Os objetivos para travar uma disputa nesses termos são variados, assim como as suas consequências.
Vamos recorrer a um exemplo recente e que recebeu muito atenção midiática.
Em 2017, os Estados Unidos tinham um déficit de US$ 566,6 bilhões, 66% dos quais eram resultado de transações com a China. O país mais importava do que exportava, sobretudo automóveis e peças, produtos farmacêuticos, televisores, roupas e outros itens domésticos. Na tentativa de reduzir esse déficit e de criar mais empregos internos, o governo deu início a basicamente três guerras comerciais: impôs uma tarifa universal sobre o aço, outra tarifa sobre os automóveis europeus e adotou uma série de tarifas sobre as importações chinesas.
Mas quais foram, na prática, os efeitos dessas medidas? Neste artigo, nós traçamos um panorama sobre as guerras comerciais e mostramos quais são as suas vantagens e desvantagens.
Vem com a gente!
O que é mesmo uma guerra comercial?
A guerra comercial é uma disputa econômica, travada entre dois ou mais países, marcada pela imposição de impostos e/ou taxas alfandegárias a determinados produtos ou serviços. O termo “guerra” aqui faz alusão à tentativa de conter ou atenuar algo a que se atribui um valor negativo.
As medidas a que nos referimos são denominadas de “protecionistas”, porque visam precisamente proteger a produção interna de um país, além obter vantagens econômicas e/ou prejudicar determinada economia.
Segundo especialistas, é preciso cuidado ao classificar determinadas ações como “guerra comercial”. Essa cautela é necessária, pois, em um contexto de globalização, marcado pelo comércio multilateral, é natural que as nações instituam tarifas ou aumentem a taxação para determinados produtos.
Contudo, no caso da guerra, verificam-se ações sucessivas e duradouras, acompanhadas por uma deterioração nas relações comerciais.
É o caso do exemplo que citamos no início deste artigo, especificamente envolvendo os Estados Unidos e a China. De 2017 a 2018, o governo de Washington impôs três tarifas sobre um total de US $ 250 bilhões em importações chinesas. Em maio de 2019, foi anunciada uma quarta tarifa.
Em junho do mesmo ano, a China retaliou com uma tarifa de 25% sobre US $ 60 bilhões em produtos dos Estados Unidos. Em setembro de 2019, uma nova tarifa foi anunciada pela Casa Branca, de modo a frear as importações nas compras natalinas.
Essa guerra tarifária envolvendo duas das maiores economias do mundo teve diversas consequências não só para os países envolvidos, mas também para o resto do mundo.
Quais as consequências de uma guerra comercial?
“Sabemos pela história que ninguém ‘ganha’ em uma guerra comercial”, afirmou em 2018 o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi, em um artigo.
Na visão do secretário, as disputas comerciais acirradas representariam um retrocesso em relação às conquistas pós-Segunda Guerra Mundial. Se, no passado, os países se debatiam pela conquista de novos territórios e pelo monopólio comercial, atualmente, a palavra de ordem deveria ser a cooperação, promovida inclusive institucionalmente por órgãos como a Organização Mundial do Comércio (OMC).
De fato, desde 1947, com a assinatura do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, o valor médio das tarifas comerciais foi reduzido em 85%. Um dos resultados disso foi a participação do comércio no PIB mundial aumentando de 24% para quase 60%. Isso tudo trouxe desenvolvimento econômico e aumento de renda para vários países.
Mas, então, por que travar guerras comerciais? Vejamos, a seguir, as desvantagens e vantagens dessa prática.
Desvantagens
Primeiro: é importante não generalizar, pois cada guerra comercial tem particularidades e efeitos específicos.
De todo modo, podemos afirmar que a população dos países diretamente envolvidos nas disputas tarifárias são os primeiros a sentir as consequências. Atores como indústrias, agricultores, pecuaristas e comerciantes em geral passam a ter dificuldades para exportar os bens produzidos.
Por exemplo, depois das tarifas pelos EUA à China, em maio de 2018, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos informou que compradores chineses haviam cancelado quase 950.000 toneladas de pedidos de soja nos Estados Unidos. Os pedidos de falência de fazendeiros atingiram ou recordes históricos em nove estados norte-americanos em 2019, um aumento de 24% em relação ao ano anterior.
Portanto, pode-se afirmar que os setores diretamente atingidos pela guerra comercial perdem em lucratividade. As empresas são, assim, forçadas a cortar gastos, reduzir a produção e até a despedir funcionários. Isso gera um efeito cascata que tende a ser negativo para a economia de forma geral. Uma agência federal norte-americana estimou que a guerra comercial com a China custou a cada lar ianque, em média, US$ 580,9 em 2020. Isso inclui preços mais altos e perda de crescimento econômico.
Outro impacto importante está relacionado à diminuição da oferta de determinados produtos, antes importados em larga escala. A tendência é que a demanda por esses itens aumente. Com a oferta reduzida, gera-se alta nos preços e consequente redução do poder aquisitivo da população em geral.
Até quem não participa diretamente da guerra comercial pode ser afetado, principalmente se a disputa durar por um período longo. Com a economia arrefecida, os países envolvidos deixam de travar relações comerciais tão intensas com o resto do mundo. As bolsas de valores tendem a cair, e há uma redução do PIB e do crescimento econômico mundial. Os países menos desenvolvidos tendem a ser os mais afetados.
Vantagens
Para o país que adota as medidas protecionistas, uma das vantagens seria um maior consumo forçado dos produtos produzidos por aquele mesmo país, principalmente dos atingidos pelas tarifas.
Para os demais países, há também algumas oportunidades. Vejamos um exemplo.
Antes das sanções tarifárias norte-americanas, a China importava anualmente cerca de US $ 12 bilhões em soja dos EUA para alimentar os porcos, a principal carne consumida pelos chineses. No contexto da guerra comercial, sabe de onde o país passou a comprar esse produto? Daqui mesmo: sim, do Brasil.
Diante da alta de preços norte-americanos, os compradores chineses perceberam que era mais vantajoso recorrer aos produtos agrícolas e manufaturados de origem brasileira. Assim, as exportações do nosso país para a China cresceram 35% em 2018, em comparação ao ano anterior.
Considerando vantagens e desvantagens, especialistas sempre recomendam cautela no uso de medidas protecionistas.
Chegamos ao fim deste artigo. Gostou de saber mais sobre as guerras comerciais? Aqui no blog da Open Market, a gente sempre descomplica os principais assuntos do comércio exterior. Então, aproveita a sua visita e curte a nossa página no Facebook ou segue a gente lá no Instagram – assim, você recebe um alerto dos próximos conteúdos.
Até a próxima!